História

Breves notas históricas

A origem do nome da freguesia advém do orago consagrado a Santo António da Serra, contudo é normalmente conhecida por “Santo da Serra”. A sua popularidade deve-se sobretudo ao ambiente natural de inspiração romântica, proporcionado pela luxuriante vegetação e pelo clima ameno que se faz sentir na época estival, atraindo deste modo muitos visitantes.

A freguesia de Santo António da Serra, implantada na costa sul da ilha da Madeira, pertence ao concelho de Machico, confrontando a Norte e Oeste com a freguesia do Porto da Cruz, a Leste com a freguesia de Machico e a Sul com o concelho de Santa Cruz, distante do Funchal cerca de 20 km.

A freguesia fica situada num planalto, a uma altitude de 700 metros, sobranceiro à freguesia de Machico. Caracteriza-se pela extraordinária beleza da paisagem, pincelada por castanheiros, acácias e sabugueiros que proporcionam um ambiente bucólico, motivo pelo qual foi eleita pelos ingleses para aí construírem as suas quintas.

Os principais sítios da freguesia são a Ribeira de Machico, a Madeira da Igreja, a Fajã dos Rolos, a Fajã das Vacas, a Margaça e o Lombo das Faias, Palheiros, Portela.

O povoamento da freguesia foi um pouco tardio, devido ao normal ao normal processo de povoamento da ilha, primeiramente o litoral e mais tarde as zonas do interior. O arroteamento desta zona ter-se-á iniciado no primeiro quartel do século XVI, onde actualmente se localiza a igreja paroquial, sem contudo existir um povoamento efectivo.

Ao longo do século XVI o povoamento foi-se intensificando, tendo Gil de Carvalho mandado erigir duas ermidas, o que revela as crescentes necessidades religiosas da população residente, que dedicava o seu quotidiano ao cultivo ao da terra. No século XVII encontramos um núcleo populacional de relativa importância atestado pela existência da igreja paroquial.

No século XVI a primitiva ermida, existente no lugar onde hoje se situa a igreja paroquial, estava sob a jurisdição do vigário de Machico. Todavia, a partir do século XVII iniciou-se a disputa pela posse da referida ermida, envolvendo os vigários de Machico, Santa Cruz e Água de Pena. Com o intuito de resolver a contenda o bispo D. Lourenço de Távora tomou a ermida sob sua protecção ficando sob jurisdição episcopal, e consequentemente os terrenos circunvizinhos que desde sempre foram considerados pertença da Mitra do Funchal.

O vigário Capitular e Governador do Bispado, António Alfredo de Santa Catarina, em 1836, anexou a freguesia de Água de Pena ao Santo da Serra, sendo esta última sede da nova paróquia com o nome de freguesia do Santo da Serra e de Água de Pena. A freguesia do Santo da Serra acabaria por ser restaurada por carta régia de 1848, anexando a paróquia da Achada do Barro, e desde então a paróquia fica autónoma de Machico.

Em 1852 foram anexos ao concelho de Santa Cruz alguns sítios das freguesias de Machico e do Santo da Serra, o que provocou bastantes protestos. Os limites dos concelhos de Machico e de Santa Cruz, e a nova divisão paroquial, que chega à actualidade, foram acordados em 1862 por iniciativa do Secretário-geral do Distrito, António Lopes Barbosa de Albuquerque, que reuniu na Casa dos Romeiros do Santo da Serra os respectivos representantes das câmaras municipais.

Assim, fruto de uma longa disputa aquando da delimitação da sua área entre os concelhos de Machico e Santa Cruz, é a única freguesia da Ilha da Madeira que esta dividida entre dois concelhos.

No reinado de D. Maria I estabeleceu-se na freguesia de Santo António da Serra uma aldeia para a população do Porto Santo, sendo distribuídas, gratuitamente, casa pelos populares. Esta medida surgiu como resposta à fome que então grassava no seio da população de Porto Santo, consequência da crise económica que no século XVIII afligia aquela ilha. Esta freguesia por Alvará de 18 de Dezembro de 1768 tomou o nome de Aldeia da Rainha. Contudo, a população não se adaptou ao clima de Santo António da Serra, mais húmido e fresco, traduzindo-se no abandono dos porto-santenses, tendo a referida aldeia ficado sob a jurisdição de Machico.

A freguesia de Santo António da Serra, no século XIX, foi palco de um agitar de consciência religiosa que inflamou o espírito dos crentes. O médico escocês Robert Kalley instalou-se nesta freguesia, sendo sua prática corrente a dispensa de cuidados médicos gratuitos. Ao mesmo tempo que curava os males do corpo, tentava difundir as ideias protestantes junto dos seus pacientes, e restante população.

O cunho marcadamente católico da população da ilha não facilitou a difusão das ideias calvinistas, culminando com alguma agitação na sede dos concelhos de Machico e Santa Cruz. Em consequência destes tumultos foram instaurados processos contra os divulgadores da nova doutrina, conduzindo alguns membros à prisão, e tendo o Dr. Kalley abandonado a ilha da Madeira.

Olhares sobre o património

Nesta aprazível freguesia, onde o verde explode pelos campos e montes, podemos encontrar algumas belas quintas, pertencentes às famílias mais abastadas, que para ali se deslocavam na estação de veraneio.

Uma das mais notáveis é a Quinta Blandy ou da Junta, como é geralmente mais conhecida, porque a antiga Junta Geral do Distrito do Funchal adquiriu esta quinta à referida família. Com a Autonomia o espaço passou para a propriedade do Governo Regional.
A casa é um interessante edifício ao gosto colonial inglês que data de finais do século XIX. Em seu redor desenvolveu-se um luxuriante parque ajardinado com árvores seculares, algumas de grande interessante botânico, vindas de vários continentes e que ali coabitam e crescem harmoniosamente.

Num canto da quinta encontra-se um mirante sobre o bonito vale da Ribeira de Machico. Ali, até à pouco tempo, havia uma espécie de Casinha de Prazer construída em colmo e com chão calcetado a calhau rolado. No seu interior observam-se bancos corridos e mesas toscas em madeira indígena. Esta quinta, que logo nos recebe com um bonito caminho ladeado de velhas azáleas brancas, é muito visitada por residentes e turistas.

Na zona administrativa de Machico fica situado o Hotel do Santo, que foi uma das primeiras unidades hoteleiras a ser construída fora do Funchal (inícios de século XX).

As suas empreendedoras parecem ter sido duas românticas inglesas que apreciavam o bucolismo da localidade.

Mesmo ao lado deste estabelecimento observa-se o Centro de Saúde que foi instalado num pequeno chalé de inícios do século XX, recentemente ampliado. De notar bandeiras de porta de vidros coloridos raros.

Por entre os velhos caminhos ainda podemos encontrar preciosos registos da arquitectura vernácula. São casas térreas ou sobradadas com remates de telhado com cabeças de meninos, cães, pombas ou outros motivos, com toda a sua simbologia mágica que traz fertilidade à casa ou afasta os maus espíritos. São as bonitas chaminés, ou bandeiras de porta com vidros coloridos. Observa-se em algumas delas, latadas de vinha que torna a residência mais fresca no Verão. Um chão calcetado a calhau rolado ou pedra basáltica partida, ou os tapa-sóis com as “bilhardeiras” e os jardins multicolores.

Na bifurcação da estrada que vai para a Portela e a que sobe para o centro da freguesia, encontra-se a emblemática Fonte de Santo António que outrora matou a sede a muitas pessoas que de Machico se dirigiam a estas serras em busca de lenha.

Ainda se vislumbram palheiros de colmo com empeno para armazenar alimento para o gado bovino.

Na Portela obtém-se uma das mais deslumbrantes e magníficas vistas da Madeira. Aos seus pés estende-se o Porto da Cruz com a sua imponente Penha D´Àguia.

Uma nota mais, para as estradas desta bonita freguesia, que ainda se encontram frequentemente ladeadas da Agapantos ou, como é mais conhecida, põe Coroas de Henrique, e Hortênsias mais conhecidas por novelos, que emprestam às estradas outra beleza e cor.

Fonte: “Roteiro Freguesia da Freguesia de Santo António da Serra”